É fato inegável que a prevalência de obesidade tem aumentado assustadoramente nas últimas décadas em muitos países industrializados como os Estados Unidos, Grã Bretanha e Alemanha. Mas o avanço não se dá apenas em países ricos ou em desenvolvimento. De acordo com dados divulgados no 5° Relatório sobre Nutrição Mundial, da Organização Mundial de Saúde, em 2004, o mesmo já ocorre em nações mais pobres. O Kuwait, por exemplo, registra prevalência de obesidade de 64,2%, México, de 59,6%, e Polinésia, de 73,7%.
Os números e as informações sobre os males causados pela obesidade crescem na mesma proporção que a "epidemia". Todos estão atentos: revistas, jornais, rádio, televisão informam, explicam, dão "dicas", promovem debates, explicam nutrição humana adequada. A indústria de alimentação volta-se para o lucrativo setor de alimentos light adoçantes não calóricos, comidinhas diet etc. Sabemos que a obesidade é porta de entrada de várias doenças graves como a diabetes, infarto e pressão alta. E, mesmo assim, continuamos cada vez mais gordos! Por quê?
Da caça à sobrevivência
O que essa resumida noção antropológica nos explica sobre a gênese da obesidade? Julgamos que, sendo a caça uma atividade predatória incerta e imprevisível, o homem primitivo, com sorte e audácia, conseguia trazer à caverna, esporadicamente, o produto da caça, seguindo-se, por dias, o festim, com ampla comida para todos. Mas, infelizmente, nem sempre se obtinha o alimento e não havendo armazenamento dos restos do banquete, passava-se FOME até nova chegada de algo nutritivo.
A luta dos ‘genes poupadores’
Os genes não foram ‘desligados’
Passam-se os séculos, o homem domina a natureza, cria a agricultura, apascenta bovinos, ovinos e suínos e deixa a caça como divertimento dos aristocratas. A superabundância de alimentos, a partir de revolucionarias técnicas agrícolas e pastoris, coloca, hoje, na mesa, uma imensa variedade de alimentos, a preços acessíveis e facilmente disponíveis. Só que em meio a toda essa oferta, o Sistema Cortical esqueceu-se de "desligar" aqueles genes poupadores de energia. Os genes que foram utilíssimos para o homem primitivo são agora uma armadilha para o moderno "homo obesus".
Comidas feitas para engordar
E os transportes também...
Além de comer mais, as populações se tornaram mais sedentárias. O automóvel, a moto, a escada rolante, o elevador diminuem o ato de caminhar, subir escadas, ou locomover-se em busca de condução ao trabalho. Em Pequim as fotos e os vídeos da década de 80 mostravam que toda a população andava de bicicleta para ir e voltar do trabalho. No início de 2000, a cidade foi tomada pelas pequenas motos. O resultado é que os habitantes da capital chinesa atingiram, em 2004, a marca de 14%-16% de obesidade contra 3% em 1980.
Uma equação difícil de resolver
Ou, o número crescente de "homo obesus".
Geraldo Medeiros
Médico endocrinologista
E-mail: medeiros.dr@gmail.com
Fonte: http://vejaonline.abril.com.br
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